domingo, 22 de janeiro de 2012

Top 9 mitos sobre energia nuclear

Fonte: Site da American Nuclear Society
Traduzido e adaptado por Pamela Piovezan.

Vários mitos cercam o tema "energia nuclear". Para ajudar a esclarecer alguns desses mitos, a American Nuclear Society, uma organização internacional com cerca de 11.000 membros da área nuclear entre cientistas, engenheiros, educadores e estudantes, preparou uma lista dos 10 mitos mais famosos nos Estados Unidos.

Como isso foi feito antes do acidente de Fukushima, traduzi e adaptei esse material para incluir algumas das consequências do acidente. Claro que cada um dos mitos, por si só, daria um texto imenso sobre o assunto. Por isso, lembre-se, esse post é apenas uma visão geral. Alguns dos temas já apareceram em outros posts aqui do blog e estão indicados no final desse post.


Mito #1. As pessoas recebem a maior parte da dose anual de radiação dos reatores nucleares.

Fato: Nós estamos cercados por radiação natural. No solo, nos alimentos e até no ar que respiramos existem elementos radioativos. No caso dos Estados Unidos, o país com o maior número de reatores nucleares do mundo, apenas 0,005% da dose média anual de radiação recebida pelas pessoas vem dos reatores nucleares. Essa dose é 100 vezes menor que aquela liberada na queima do carvão mineral pelas termoelétricas (devido a traços de Urânio, Bário, Tório e Potássio radioativos presentes nas cinzas) [1], 200 vezes menor que a que recebemos em um vôo transatlântico (devido aos raios cósmicos) e equivalente àquela que ingerimos ao comer uma banana por ano (devido ao Potássio-40) [2].

Mito #2: Um reator nuclear pode explodir como uma bomba nuclear.

Fato:É impossível que um reator exploda como uma bomba nuclear. Isso porque as bombas contêm materiais especias em configurações particulares que visam à explosão nuclear. Os reatores nucleares são projetados para que, mesmo no caso dos acidentes mais sérios, a reação em cadeia não se torne descontrolada por tempo suficiente para causar uma explosão nuclear. No caso do acidente de Fukushima, por exemplo, a explosão do prédio do reator foi ocasionada por uma reação química e não pela fissão nuclear descontrolada, como nas bombas atômicas.

Mito #3: A energia nuclear é prejudicial ao meio ambiente.

Fato: Reatores nucleares não emitem gases do efeito estufa durante sua operação. Durante toda a vida útil das usinas, a emissão total de gases do efeito estufa (nas fases de construção, do ciclo do combustível e do desaparelhamento da usina) é comparável à emissão de fontes renováveis de energia como a solar e a eólica [3]. Além disso, as usinas nucleares ocupam uma área menor de solo que as demais fontes energéticas para gerar a mesma quantidade de energia.

Mito #4: Energia nuclear não é segura.

Fato: Energia nuclear é  tão ou mais segura que qualquer outra forma de geração de energia disponível. Nos 50 anos de história das plantas comerciais dos Estados Unidos, por exemplo, nenhum membro do público foi machucado ou morto devido aos reatores nucleares. Um estudo de 2010 da Nuclear Energy Agency [4] compara o número de acidentes e mortos associados às diferentes formas de geração de energia (incluindo toda a cadeia energética). Entre 1969 e 2000, as termoelétricas a carvão ocasionaram, nos países não-membros da OECD (isto é, países em desenvolvimento e subdesenvolvidos), 1.044 acidentes com 18.017 mortes. As hidrelétricas causaram, no mesmo período, 10 acidentes com 29.924 fatalidades. Já a indústria nucleoelétrica resultou em 1 acidente (o de Chernobil) com cerca de 31 mortes imediatas.

Mito #5: Não existe nenhuma solução para a grande quantidade de lixo nuclear que está sendo gerado.

Fato: Todo o combustível nuclear usado nas usinas do mundo todo nos últimos 50 anos encheria um campo de futebol com uma altura menor que 10 metros! E mais, cerca de 95% desse "lixo" pode ser reciclado! [5]. A solução defendida pela comunidade científica internacional para o depósito final dos combustíveis usados são os repositórios geológicos nos quais o material radioativo ficaria armazenado indefinidamente [6]. Países que tem seus programas nucleares em estágio avançado já se ocupam da construção desses repositórios. A França e o Canadá, por exemplo, prevêem a operação de seus repositórios geológicos para 2025. Os Estados Unidos já têm um repositório pronto para receber os combustíveis usados em Yucca Mountain (Nevada). Entretanto, o país vive hoje um impasse político nessa questão e ainda não há autorização legal para seu funcionamento.

Mito #6: A maioria dos norte-americanos não apóiam a energia nuclear.

Fato: Em pesquisas de opinião realizadas em 2009 (e, portanto, antes de Fukushima), cerca de 70% dos norte-americanos apoiavam a energia nuclear [7]. Além disso, 84% dos americanos viam a energia nuclear como uma importante fonte de eletricidade para o futuro e 70% aceitariam um novo reator nas instalações da planta nuclear mais próxima. Seis meses após o acidente de Fukushima, cerca de 62% dos norte-americanos apoiavam a energia nuclear [8]. Além disso, 59% dos americanos apoiam a construção de novas usinas nucleares ecerca de 67% aceitariam um novo reator nas instalações da planta nuclear mais próxima.

Mito # 7: Um "Chernobil" brasileiro mataria milhares de pessoas.

Fato: Um acidente do tipo Chernobil não poderia ocorrer no Brasil porque esse tipo de reator nunca foi construído ou operado aqui. As fatalidades durante o acidente de Chernobil ocorreram nos profissionais que tomaram as ações de mitigação imediata do acidente [9]. No público que recebeu altas doses de radiação, o aumento da incidência de câncer é muito pequeno para ser medido (e associado exclusivamente à radiação) quando comparado às outras causas possíveis de câncer, tais como poluição do ar ou uso de cigarros.

Mito #8: O lixo radioativo não pode ser transportado de forma segura.

Fato: O combustível usado vem sendo transportado de forma segura nos Estados Unidos por caminhões, trens e navios cargueiros em cascos especialmente feitos pra isso. Estes cascos são testados contra vários tipos de batidas e incêndios, sobrevivendo intactos, sem liberar radioatividade. Milhares de cargas já foram transportadas sem vazamentos ou fraturas em tais cascos [10].

"Crash test" com uma locomotiva de um casco para transporte de material radioativo. O casco (vermelho) permanece inteiro após o impacto. Fonte: The Canadian Nuclear FAQ.

Mito #9: O combustível nuclear usado é mortal por 10.000 anos.

Fato: O combustível nuclear usado pode ser reciclado para fazer novos combustíveis ou subprodutos [11]. A maior parte dos rejeitos produzidos neste processo requer um tempo de armazenamento menor que 300 anos para que a atividade caia até níveis não prejudiciais à saúde. Menos de 1% desses rejeitos são radioativos por 10.000 anos e precisam ser armazenados indefinidamente (nos depósitos geológicos, por exemplo).


Para saber mais:

[1] National Council on Radiation Protection and Measurements No. 92 and 95.
[2] CDR Handbook on Radiation Measurement and Protection.
[3] P.J. Meier, "Life-Cycle Assessment of Electricity Generation Systems and Applications for Climate Change Policy Analysis," 2002.
[4] Comparing Nuclear Accident Risks with Those from Other Energy Sources, NEA, 2010.
[5] K.S. Krane, Introductory Nuclear Physics, John Wiley and Sons, 1988.
[6] Progress Towards Geologic Disposal of Radioactive Waste: Where do We Stand?, Nuclear Energy Agency, OECD report, 1999.
[7] Perspectives on Public Opinion, NEI publication, June 2008.
[8] Latest Trends in U.S. Public Opinion About Nuclear Energy, NEI, Sept. 2011.
[9] Chernobyl Forum reports 20-year findings, offers recommendations, Nuclear News, Oct-05.
[10] DOE Fact Shee.
[11] K.S. Krane, Introductory Nuclear Physics, John Wiley and Sons, 1988.

The Nuclear Energu Opinion, Bernard Cohen, 1990.


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domingo, 15 de janeiro de 2012

Usinas de Angra batem recorde de geração em 2011

Fonte: Site da Eletronuclear

As usinas nucleares Angra 1 e Angra 2 fecharam o ano de 2011 gerando, juntas, 15.644.251 megawatts-hora (MWh) – a melhor marca da história da central nuclear. Essa energia seria suficiente para abastecer Brasília, Belo Horizonte, Maceió, Curitiba e Angra dos Reis por aproximadamente 1 ano.

Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), no ano passado, a energia nuclear foi a segunda maior fonte de geração de eletricidade do país, só ficando atrás das hidroelétricas, responsáveis por 91% do total de energia fornecida ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Em 2011, a produção de Angra 1 e Angra 2 representou 3,17% da matriz elétrica brasileira. Particularmente, no que diz respeito ao Rio de Janeiro, a energia nuclear gerou o equivalente a um terço do consumo total de energia elétrica do estado.

Recordes individuais

No ano passado, Angra 1 e Angra 2, individualmente, também bateram recordes de produção. Angra 1 gerou 4.654.487 MWh – valor que supera os 4.263.040 MWh gerados em 2010, maior marca anterior. O desempenho torna-se ainda mais significativo quando se leva em conta que este recorde foi atingido num ano de parada para recarga de combustível.

A expectativa é que o resultado em 2012 seja ainda melhor, na medida em que Angra 1 vai estar disponível para operar o ano inteiro. Nesse ano, o ciclo de operação da unidade será mais longo, fazendo com que não seja necessária parada para reabastecimento e manutenção programada.

Angra 2, por sua vez, teve uma produção de 10.989.764 MWh em 2011 – superando o recorde anterior, obtido em 2008, de 10.488.289 MWh. O fator de disponibilidade da usina no ano passado (ou seja, o tempo em que ela esteve disponível para gerar 100% de sua capacidade) foi de 99,09% - o maior fator anual desde o inicio de sua operação comercial, em 2001.